BOAS VINDAS

Paz e Bem! Bem vind@s ao nosso Blog, através dele manteremos um canal de comunicação com nossos irmãos e irmãs e também com tod@s que quiserem conhecer melhor a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, através da Paróquia de Todos os Santos, em Novo Hamburgo. Esperamos que este contato virtual possa ser agradável, mas que seja também só um caminho para um encontro real e uma amizade verdadeira em Cristo. Desej0-lhes as bençãos de Nosso Senhor sobre suas vidas e espero a sua visita em nossa comunidade. Grande e fraterno abraço. Revdo. Ives Vergara Nunes, Reitor.

terça-feira, 27 de março de 2012

CARTA PASTORAL AO CLERO E POVO DA DIOCESE MERIDIONAL

“Lava-me de toda a maldade e limpa-me do meu pecado” Salmo 51.2
“Senhor, liberta-nos de cairmos no pecado de crermos que a escravidão do Egito é melhor do que as lutas no deserto”. (Cipriano do Cartago, Mártir, 250 AD)
“Porque nestes 40 dias Tu nos levas ao deserto do arrependimento para que por meio da oração e da disciplina possamos crescer em graça e aprendermos a ser, novamente, o Teu povo”. (Prefácio da Quaresma, Liturgia Anglicana)


Ao Reverendo Clero e a todos os irmãos e irmãs em Cristo, graça e paz.

Estamos vivendo, como cristãos e cristãs, o grande retiro da Santa Quaresma, quando buscamos sempre voltar nossas vidas na direção de nosso Deus e Pai celestial.
Neste tempo quaresmal, a Tradição da Igreja Cristã no convoca à oração e à escuta e reflexão da Palavra de Deus no silêncio de nossos corações; à conversão, ou seja, o voltar sempre mais os nossos caminhos na direção de Deus e examinarmos por onde temos andado à luz da fé; ao jejum, isto é, o privar-nos, o renunciar e abster-nos. Na sociedade permissiva e consumista que vivemos, o jejum é o voltar-nos para o essencial, a partilha, o estender a mão e dar auxílio a alguém, num exercício de misericórdia, compaixão e solidariedade. Ser cristão e ser Igreja significam colocar a experiência pessoal sob a luz do Evangelho, e da vida histórica da Igreja e da realidade que nos cerca e não sermos prisioneiros da experiência, sem a meditação e reflexão. A Quaresma nos convida a vivermos estas duas ênfases.
Neste ano nossa, Diocese inicia uma nova etapa de sua vida, preparando-se para eleição de seu novo bispo ou bispa, no Concílio extraordinário que se realizará em setembro próximo. A eleição ao episcopado numa diocese é uma ocasião muito rica para colocar a vida diocesana e o ministério de todo o povo sob a perspectiva do ensino da Igreja, moldando desta forma o futuro de todos nós. Este é um momento ímpar e de muita responsabilidade de uma Igreja, em que o clero e o povo tem o privilégio e a responsabilidade de escolher o seu Pastor ou Pastora. E devemos estar conscientes de que o Episcopado na Igreja não é um “emprego”, mas sim um ministério.
É compreensível que, ao falarmos na escolha de uma nova liderança episcopal as pessoas automaticamente pensem em nomes. Mas este não é o melhor caminho para iniciar o processo. Devemos sim, primeiramente nos perguntarmos: Que Diocese queremos nesta nova etapa da vida diocesana? Quais os novos desafios e serviços que a missão de Deus nos coloca a serem enfrentados? Pois não podemos falar em ministério isolado da missão. Quais as nossas metas pastorais, administrativas, missionárias e educacionais para os próximos anos? Quais as nossas expectativas com relação ao ministério episcopal? Qual a nossa participação e colaboração com este novo ministério episcopal?
Depois sim, a partir desta reflexão, devemos buscar o discernimento sobre o perfil do episcopado para este novo tempo, tendo a consciência de que, humanamente, ninguém tem todos os dons, todas as virtudes e predicados para atender a um perfil ideal do ministério episcopal.
O bispo ou bispa é alguém que lidera a todos no grande sinal da identidade cristã, é como uma ponte unindo todas as paróquias e missões da diocese e a diocese com a Igreja pelo mundo afora. E na tradição da Igreja a função pastoral do episcopado incorpora três atividades centrais: a de proclamar e ensinar; a de prover os sacramentos, e, especialmente, presidir a Liturgia Eucarística da Igreja, e a de exercer a supervisão ou liderança nos concílios. A pessoa chamada ao episcopado não é um executivo de uma empresa. Ela preside não apenas uma instituição, mas um povo, ao qual ele pertence.
Todos os presbíteros e presbíteras são em princípio, canonicamente, candidatos em potencial, mesmo reconhecendo que um bom pastor ou pastora paroquial não significa, necessariamente, um bom pastor ou pastora diocesana. Após este tempo de oração e reflexão a respeito da vida diocesana para os próximos anos, então devemos refletir sobre o perfil de alguém que possa assumir esta tarefa e ministério. Só então, após esta caminhada, com muita oração, discernimento e cuidado, olhar no nosso clero diocesano quem melhor atenderia o desafio que o momento histórico nos impõe. Lembrando sempre, que em todo este processo, a nossa atitude é a de cristãos e cristãs na busca de seu Pastor ou Pastora.
É tarefa dos bispos ou bispas articular o diálogo e a unidade, sem impor à Igreja seus projetos pessoais – por melhores que sejam - nem seus próprios estilos ou gostos, sua própria teologia ou ideologia política, ou seus pendores devocionais; antes, desde os primórdios da Igreja, tem sido tarefa dos bispos respeitar a diversidade e a pluralidade para, com base neste respeito, construir a unidade e o sentimento de identidade, ajudando a Igreja a discernir e a perceber em seu centro e no centro do mundo a presença viva de Jesus. Por isso, não basta apenas escolher alguém que é diferente ou que é enérgico ou dinâmico ou ainda batalhador, se não tem a capacidade de reconhecer a presença de Cristo em outras linhas teológicas. Pois apenas dinamismo e energia não qualificam alguém para o ministério episcopal, podendo, ao contrário, contribuir não só para repelir os que não têm a mesma persuasão, mas também trazer divisão. Dinamismo e energia são necessários, mas devem estar a serviço da unidade e da comunhão.
Cabe-nos lembrar, que lamentavelmente na história da igreja no passado e recentemente, nos processos de eleições episcopais, temos visto a reprodução do que presenciamos na política secular. Os interesses, o loteamento de cargos, os acordos visando vantagens. E mais grave e triste, na ânsia desenfreada para vencer, surgem as atitudes de acusações, destruição da imagem e da vida dos outros com acusações levianas, ofensivas, maldosas e desleais aos outros candidatos. Atitudes indignas de quem se diz cristão ou cristã. É inaceitável que queiramos eleger alguém para o episcopado levando em consideração os defeitos dos demais candidatos, ou tomando como base para defender aquele ou aquela que nos agrade maledicências e discórdias. Pois estas atitudes não levam a nada, não promovem a unidade da igreja e alguém que use os defeitos dos outros como alavanca eleitoral para o seu candidato ou candidata, estará, certamente, distorcendo o processo e ao invés de contribuir para o fortalecimento da vida diocesana promoverá a discórdia e a divisão.
Graças a Deus, na eleição anterior, em nossa diocese, isto não ocorreu. E oramos a Deus que este não seja o caminho buscado neste ano. Pois este será o caminho mais curto e fácil para a quebra da comunhão e unidade diocesanas que até o momento temos vivido. E que trará consequências desastrosas para o ministério do novo bispo ou bispa e para a vida da diocese.
“Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja”( 1ª Timóteo 3.1) . O problema não consiste, no entanto, em aspirar ao episcopado, ou até mesmo em tentar convencer as outras pessoas, mas em basear seu ponto de vista nos defeitos dos oponentes. Nossa escolha deve ser baseada em coisas positivas e não em negativas. Fazer “política” não é algo feio, mas devemos fazê-la expondo as qualidades de nosso candidato sabedores que aquele ou aquela que for escolhido será bispo ou bispa de todos nós e necessitará das orações, do apoio e do auxílio de todos para o bem da Igreja.
O ministério episcopal é antes de tudo o ministério da unidade. O episcopado, primordialmente, tem a ver com a unidade da Igreja. Como afirmava um dos Pais da Igreja dos primeiros séculos, Cipriano, de Cartago (250 AD): “O bispo é um que surge de muitos para que, a partir da pluralidade, se constitua a unidade”. E a unidade da igreja diocesana se dá com a integração dos diversos e variados dons e ministérios num único corpo. “E uma tarefa primordial do bispo e da bispa é presidir este corpo, a Igreja. Ele ou ela não é a cabeça do corpo, pois a cabeça é o próprio Cristo Vivo, ressuscitado, sempre presente no meio da Igreja. E o episcopado é, antes, sacramento, ou seja, presença simbólica que, no meio da comunidade, é sinal da presença do Cristo. Ele tem antes de tudo o ministério da unidade, da comunhão e da Palavra”.
Todos nós na Igreja não pensamos de igual modo. Não existe numa diocese uma uniformidade de pensamento e na forma de ser, e isto é uma riqueza. Mas o que sempre temos buscado como anglicanos, é uma Igreja e uma diocese em especial, que, em sua diversidade caminhe junto na missão de ser fiel à missão que Deus nos confiou nesta parte de nosso país.
Outra diocese da IEAB, e a nossa diocese em especial, também está sendo chamada neste ano a eleger alguém para o ministério de bispo ou bispa na Igreja. Conclamamos a Igreja diocesana a que nesta tarefa, seja obediente e dócil à voz das Sagradas Escrituras, pois elas nos iluminam sobre os critérios que devem nos guiar.
Que neste tempo de decisão da nossa vida diocesana o Espírito Santo de Deus nos ilumine para que escolhamos uma pessoa, embora imperfeita e pecadora como todos nós, que seja humilde para assumir a comunidade da diocese e “colocar sobre os seus ombros a comunhão que caracteriza a Igreja”. Que antes de pensar em nossa conveniência pessoal, olhemos para o Evangelho, do qual a Igreja é instrumento e para o qual o episcopado nos pastoreia, nos orienta e nos anima. Tendo a consciência que apesar da diversidade e da pluralidade, nós cremos na Igreja Um, Santa, Católica e Apostólica.
Que nosso Deus conceda a todos nós, neste tempo de decisões, que o seu Espírito nos transforme; que a doçura do seu Espírito nos dirija e inspire; que os dons do seu Espírito nos capacitem e iluminem para servi-lo e adorá-lo.
E que a misericórdia, a proteção, a força, a inspiração e a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo estejam com todos vós.


Porto Alegre, Quaresma, 2012


+ D. Orlando Santos de Oliveira
Bispo Diocesano

PÁSCOA – entre a tradição e a novidade

A Igreja comemora a Páscoa anualmente, repetindo praticamente os mesmos gestos, textos bíblicos e ritos há quase dois mil anos. E isto foi, por muitos séculos, uma segurança para os fiéis, pois se atribuía a esta longa tradição a força de um ensinamento cujas raízes eram tão profundas que não poderiam ser alteradas por nenhum ser humano. Ao celebrar a longa trajetória da fé do povo e da presença de Deus em meio aos que O amam, renovavam sua esperança no futuro e seguiam firmes na fé, na vida e na luta pelo Reino de Deus.

Porém hoje vivemos num mundo que valoriza somente o que é novo. E as pessoas procuram estas novidades nas lojas, na moda, na TV, na informática, na internet, na música, nos relacionamentos, nos produtos de beleza que rejuvenescessem, nas igrejas. A novidade virou um produto dos mais valorizados no mercado. Um exemplo: Há alguns dias o lançamento de um novo computador nos Estados Unidos fez com que pessoas do mundo inteiro fossem para lá e ficassem dias em uma fila para serem os primeiros a adquirir o novo produto. E a partir deste lançamento todos os demais computadores se tornaram obsoletos. Assim tudo o que é antigo, repetido e tradicional parece perder seu sentido e valor no mundo atual.



Então como pode a Igreja falar de Páscoa como nova vida? Em outras palavras: Como pode a tradição se tornar novidade para o povo? Não tenho a resposta final, até porque ela não existe, pois Deus se manifesta de forma diferente a cada irmão/a e a cada comunidade, mas oro pedindo que Deus: “lhes ilumine os olhos da mente, para que compreendam a esperança para a qual ele os chamou; ... para que entendam como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo ...” (cfe Ef 1:18)

Encerramos lembrando o que o próprio Jesus nos disse: “Conhecerão a verdade e a verdade libertará vocês” (João 8:32). E a verdade é que Cristo, nossa Páscoa, é a maior de todas as novidades e conhecê-Lo e segui-Lo é o que de melhor pode acontecer na nossa vida.

“Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês.” (Tiago 4:8)

Revdo. Ives Vergara Nunes – Pároco